Carta de Melissa ao professor Hubert.
Essa calcinha sou eu. É a coisa que melhor me descreve. De quem poderia ser, estranha e assim desenhada, com um lacinho pendurado de cada lado, senão de uma pequena Lolita? Mas essa calcinha, além de me pertencer, é o meu corpo e eu.
Já me aconteceu muitas vezes de fazer amor usando-a, talvez nunca com você, mas não importa... Esses lacinhos são um obstáculo para meus instintos e meus sentidos, são amarras que, além de deixar marcas na pele, bloqueiam os meus sentimentos... Imagine o meu corpo seminu usando apenas essa calcinha: desfeito o nó, só uma parte de mim vai se libertar, a Sensualidade. O espírito de Amor ainda enfrenta o obstáculo do nó do lado esquerdo. E então, aquele que desfez o laço da parte da
Sensualidade só verá em mim a mulher, a menina ou, de um modo mais geral, a fêmea, que só pode receber sexo, nada mais. E ele me possui apenas pela metade e é justamente o que desejo na maior parte dos casos. Se alguém desfizer apenas o laço do Amor, eu também só poderei dar uma parte de mim, uma parte mínima, embora profunda. Depois, num dia qualquer da vida, surge aquele carcereiro que te entrega as duas chaves para liberar seus espíritos: Sensualidade e Amor estão livres e voam. Você se sente bem, livre e satisfeita, e sua mente e seu corpo não pedem mais nada, não te atormentam mais com suas exigências. Como um suave segredo, eles são liberados por uma mão que sabe como acariciar, que sabe como fazer vibrar, e basta o pensamento daquela mão para encher de calor o corpo e a mente.
Sinta agora o cheiro daquela parte de mim que está exatamente no centro, entre Amor e Sensualidade: é a minha Alma que sai e transpira pelos meus sucos. Você tinha razão quando dizia que eu nasci para trepar, como pode ver, até mesmo a minha Alma quer se sentir desejada e exala o seu cheiro, cheiro de fêmea. Talvez a mão que liberou meus espíritos seja a sua, professor.
E ouso dizer que somente o seu olfato foi capaz de captar o meu suco, a minha Alma. Não brigue comigo, professor, se estou me comprometendo, sinto que tenho que fazer isso, pelo menos no futuro não vou sentir remorso por perder alguma coisa sem tentar agarrá-la. Essa coisa faz ranger dentro de mim uma porta que não foi bem lubrificada, o barulho é ensurdecedor. Quando estou com você, nos seus braços, eu e a minha calcinha estamos livres de qualquer impedimento ou corrente. Mas, em seu vôo, os espíritos esbarram num muro: o horrível e injusto muro do tempo que passa lentamente para um, veloz para o outro, uma série de cifras que os mantêm distantes.
Espero que a sua inteligência matemática possa ajudar na solução dessa tremenda equação. Mas não é só isso: você só conhece uma parte de mim, embora tenha liberado duas. E não é essa a parte que eu queria deixar viver, não somente. Você decide se devemos dar uma reviravolta em nossa relação, se devemos torná-la mais... "espiritual"; um pouquinho mais profunda. Confio em você.
Sua,
Melissa
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