"(...)
Eu conseguia inventar homens na minha cabeça, pois era um deles; mas,
as mulheres, era quase impossível escrever sobre elas sem as conhecer de
fato. Assim, eu as pesquisava intensamente e sempre descobria seres
humanos lá dentro. Deixava a escrita de lado. A escrita representava
muito menos que o episódio vivido em si, até que terminasse. A escrita
era apenas o resíduo. Homem nenhum precisava de mulher para se sentir
real de verdade, mas era bem legal conhecer algumas. Daí, quando o caso
ia mal, o sujeito conhecia pra valer o que era a solidão e a loucura, e
assim ficava sabendo o que o esperava quando seu próprio fim chegasse...
Eu era sensível a muitas coisas: um sapato de mulher
debaixo da cama; o jeito de elas dizerem: 'vou fazer xixi'; prendedores
de cabelo; andar com elas pelos bulevares à uma e meia da tarde, só os
dois, juntinhos; as longas noites bebendo, fumando, conversando; as
brigas; pensar em suicídio; comer juntos e se sentir bem; as
brincadeiras, as gargalhadas sem motivo; sentir milagres no ar; estar
junto com elas num carro estacionado; lembrar amores passados às três da
manhã; ser avisado de que você ronca; ouvi-la roncando; mães, filhas,
filhos, gatos, cachorros; às vezes morte, às vezes divórcio, mas sempre
tocando pra frente, sempre chegando no ponto final; ler um jornal
sozinho numa lanchonete, nauseado pelo fato de ela ter se casado com um
dentista de QI 95; pistas de corridas, parques, piquenique nos parques;
até prisões; os amigos chatos dela, os seus amigos chatos; seus porres, a
dança dela; seus flertes, os flertes dela; as pílulas dela, as suas
trepadas fora do penico, ela fazendo o mesmo; dormir juntos..."
Eu era sensível a muitas coisas: um sapato de mulher debaixo da cama; o jeito de elas dizerem: 'vou fazer xixi'; prendedores de cabelo; andar com elas pelos bulevares à uma e meia da tarde, só os dois, juntinhos; as longas noites bebendo, fumando, conversando; as brigas; pensar em suicídio; comer juntos e se sentir bem; as brincadeiras, as gargalhadas sem motivo; sentir milagres no ar; estar junto com elas num carro estacionado; lembrar amores passados às três da manhã; ser avisado de que você ronca; ouvi-la roncando; mães, filhas, filhos, gatos, cachorros; às vezes morte, às vezes divórcio, mas sempre tocando pra frente, sempre chegando no ponto final; ler um jornal sozinho numa lanchonete, nauseado pelo fato de ela ter se casado com um dentista de QI 95; pistas de corridas, parques, piquenique nos parques; até prisões; os amigos chatos dela, os seus amigos chatos; seus porres, a dança dela; seus flertes, os flertes dela; as pílulas dela, as suas trepadas fora do penico, ela fazendo o mesmo; dormir juntos..."
Nenhum comentário:
Postar um comentário