quinta-feira, 30 de outubro de 2014
terça-feira, 28 de outubro de 2014
segunda-feira, 27 de outubro de 2014
Meu Infinito - Minna
domingo, 26 de outubro de 2014
sexta-feira, 24 de outubro de 2014
Vestido Vermelho - Vicente Portella
O teu
vestido vermelho amarfanhado no chão
na frente
do antigo espelho que refletia tua boca
Você, em
teu devaneio, divagava fevereiro
enquanto
a minha cabeça percorria os outros meses
O teu
perfume e teu beijo voaram pela janela
aberta do
apartamento
marcando
em alto relevo teu nome na minha pele
Mas os
meus poros expelem, rejeitam as tatuagens
e até
inflamam as vezes
Os meus
olhos continuam vagando pelas estradas
buscando
a mulher alada parecida com você
bem assim
como teus dedos tateiam o espaço escuro
em busca
de um homem puro que habita teus desvarios
Teus
passos rolam macios em avenidas da Europa,
da Ásia,
da Oceania...
Eu, por
meu lado, me apego
aos
prazeres de Caxias
ou à doce
anatomia ondulante e flexível
das
doidivanas de Copa
Eu sempre
escancaro a boca em gritos desesperados por amor e liberdade
Pra você
basta um controle de TV,
uma
novela
ou
qualquer coisa que engane
o cérebro
transparente
enquanto
a paixão se evade
mas
sempre tapo as narinas
em
respeito as meninas que voam por minha cama
É claro,
elas não amam e nem conhecem meu jeito
mas sabem
a espessura das grades que me azucrinam
Nada
começa em meu quarto e também nada termina
Amores
são só amores e as cores do arco íris
embaralham
a retina, desfocam a imagem pura
e
espalham sentimentos confusos por toda parte
Poesia
vem de marte.
Mortificação,
de Vênus
Se eu
conseguir, pelo menos, equilibrar morte e vida
já vou me
sentir tranquilo para explorar o planeta
e
caminhar pelo tempo com as minhas próprias pernas
Por mais
que se diga o oposto as noites são sempre eternas
e o gosto
do amor escorre por quase todos os lábios desde o começo das eras
Na
verdade, a antiguidade é igual aos nossos dias
em termos
de amor e drama
Madalena
fez a cama de discípulos insones
Sherazade
seduziu e devorou muitos homens
Cleópatra
arrebatou um império poderoso
ostentando
como arma apenas os seus encantos
Os amores
foram tantos na história da humanidade
que
homens criaram deuses para confundir verdades
difíceis
de absorver, compreender ou falar
na cama
ou até na sala diante de outros seres
Mas você,
com suas neuras e seus milhões de afazeres
não sabe
de nada disso
Até mesmo
teu sorriso parece meio postiço
oculto
por velhas dores, sonhos escorregadios
e manchas
de leite morno
Ficava em
mim o transtorno cruel e obsessivo
por ver, assim, teu vestido, jogado no chão do quarto
amarfanhado num canto
por ver, assim, teu vestido, jogado no chão do quarto
amarfanhado num canto
Todo dia
eu me matava.
Nem sei
bem pra que servia
a bebida
em duas taças
Eu bebo e
brindo a trapaça, você bebe por beber
Nas
avenidas de Londres, Budapeste e Manágua
a euforia
e a mágoa se misturam em você
que,
tola, nunca percebe a corrosão dos desejos
Teus
dedos tocam na neve espessa do Canadá
afagam
balas na guerra, jogam dados no cassino
e eu
quase nunca atino para as loucuras que inventas
-
demônios, chuvas, tormentas - pra te tornares amarga
Amo uma e
outra fada, passeio por entres as pernas
das
meninas nas calçadas e nunca penso em você
Quando me
concentro em nada, abro meu peito na estrada
e me
espalho no planeta clamando amor e gozo
Meu mundo
gira de novo no mesmo tempo e espaço
a que
estava acostumado
Mas
sempre que ultrapasso
as
fronteiras de você me esqueço do que fazer
O tempo
apagou os traços da nossa cumplicidade
O que me
resta é a tarde e o sol descendo na linha
preguiçosa
do horizonte
Te
absorvi anteontem
e talvez
até recorde de você um dia desses
quando eu
estiver cansado de beber em outras fontes
Mas hoje,
nem mesmo um fardo eu me sinto carregando
Apenas
penso nos anos, nos sumos desperdiçados
por
febre, fome ou fastio
O amor
começa eriçado mas vai perdendo a tensão
até que
fica vazio
Os
trilhos por que trafego quase sempre dão num rio
empanturrado
de amores
Fragrâncias,
tons e sabores dispostos no mesmo espaço
sempre ao
alcance dos braços, dos olhos e dos sentidos
para os
fins mais variados
Eu nunca
me sinto ilhado banhando-me nessas águas
impregnadas
de cores
Pelo
contrário, minha alma fica mais leve, e passeia
Se
espalha na superfície, se esfrega, embriagada,
em cada
palmo de amor
Submeto-me,
de bom grado à sensação de torpor
como um
Dionísio dopado por inalações lascivas
Espírito
serenado, deixo fluir minha febre
nessa
profusão de cheiros que explode dos corpos todos
Vejo na
frente do espelho o teu vestido vermelho
e rio do
meu esforço
para
adivinhar teus passos
por
alamedas escuras
As águas
fluíram em março e desbotaram o esboço
do que
havia de você
Hoje à
noite vou beber o vinho mais saboroso
no cálice
virtuoso da minha musa mais bela
Um
sorriso de aquarela estará naturalmente
emoldurando
meu rosto.
Livro Aberto - Carmen Silvia Presotto (Vidrágoras)
Ela amava ele
ele quase amava ela
ela a poesia lia
dele, o lance
era o romance
um dia, ela deu
a ele um poema
dele, nasceram setas
seiva, letras, o desejo
seresta e este teorema...
era tão uma vez...
Ele virou poeta
e ela?
- o seu infinito alcance.
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