sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Vestido Vermelho - Vicente Portella



O teu vestido vermelho amarfanhado no chão
na frente do antigo espelho que refletia tua boca
Você, em teu devaneio, divagava fevereiro
enquanto a minha cabeça percorria os outros meses

O teu perfume e teu beijo voaram pela janela
aberta do apartamento
marcando em alto relevo teu nome na minha pele
Mas os meus poros expelem, rejeitam as tatuagens
e até inflamam as vezes

Os meus olhos continuam vagando pelas estradas
buscando a mulher alada parecida com você
bem assim como teus dedos tateiam o espaço escuro
em busca de um homem puro que habita teus desvarios
Teus passos rolam macios em avenidas da Europa,
da Ásia, da Oceania...

Eu, por meu lado, me apego
aos prazeres de Caxias
ou à doce anatomia ondulante e flexível
das doidivanas de Copa

Eu sempre escancaro a boca em gritos desesperados por amor e liberdade
Pra você basta um controle de TV,
uma novela
ou qualquer coisa que engane
o cérebro transparente
enquanto a paixão se evade

Ainda sinto teu cheiro, confesso,
mas sempre tapo as narinas
em respeito as meninas que voam por minha cama
É claro, elas não amam e nem conhecem meu jeito
mas sabem a espessura das grades que me azucrinam

Nada começa em meu quarto e também nada termina
Amores são só amores e as cores do arco  íris
embaralham a retina, desfocam a imagem pura
e espalham sentimentos confusos por toda parte
Poesia vem de marte.
Mortificação, de Vênus

Se eu conseguir, pelo menos, equilibrar morte e vida
já vou me sentir tranquilo para explorar o planeta
e caminhar pelo tempo com as minhas próprias pernas
Por mais que se diga o oposto as noites são sempre eternas
e o gosto do amor escorre por  quase todos os lábios desde o começo das eras
Na verdade, a antiguidade é igual aos nossos dias
em termos de amor e drama

Madalena fez a cama de discípulos insones
Sherazade seduziu e devorou muitos homens
Cleópatra arrebatou um império poderoso
ostentando como arma apenas os seus encantos

Os amores foram tantos na história da humanidade
que homens criaram deuses para confundir verdades
difíceis de absorver, compreender ou falar
na cama ou até na sala diante de outros seres

Mas você, com suas neuras e seus milhões de afazeres
não sabe de nada disso
Até mesmo teu sorriso parece meio postiço
oculto por velhas dores, sonhos escorregadios
e manchas de leite morno

Ficava em mim o transtorno cruel e obsessivo
por ver, assim, teu vestido, jogado no chão do quarto
amarfanhado num canto

Todo dia eu me matava.
Nem sei bem pra que servia
a bebida em duas taças
Eu bebo e brindo a trapaça, você bebe por beber

Nas avenidas de Londres, Budapeste e Manágua
a euforia e a mágoa se misturam em você
que, tola, nunca percebe a corrosão dos desejos

Teus dedos tocam na neve espessa do Canadá
afagam balas na guerra, jogam dados no cassino
e eu quase nunca atino para as loucuras que inventas
- demônios, chuvas, tormentas - pra te tornares amarga

Amo uma e outra fada, passeio por entres as pernas
das meninas nas calçadas e nunca penso em você
Quando me concentro em nada, abro meu peito na estrada
e me espalho no planeta clamando  amor e gozo

Meu mundo gira de novo no mesmo tempo e espaço
a que estava acostumado
Mas sempre que ultrapasso
as fronteiras de você me esqueço do que fazer

O tempo apagou os traços da nossa cumplicidade
O que me resta é a tarde e o sol descendo na linha
preguiçosa do horizonte

Te absorvi anteontem
e talvez até recorde de você um dia desses
quando eu estiver cansado de beber em outras  fontes
Mas hoje, nem mesmo um fardo eu me sinto carregando
Apenas penso nos anos, nos sumos desperdiçados
por febre, fome ou fastio

O amor começa eriçado mas vai perdendo a tensão
até que fica vazio
Os trilhos por que trafego quase sempre dão num rio
empanturrado de amores

Fragrâncias, tons e sabores dispostos no mesmo espaço
sempre ao alcance dos braços, dos olhos e dos sentidos
para os fins mais variados

Eu nunca me sinto ilhado banhando-me nessas águas
impregnadas de cores
Pelo contrário, minha alma fica mais leve, e passeia
Se espalha na superfície, se esfrega, embriagada,
em cada palmo de amor
Submeto-me, de bom grado à sensação de torpor
como um Dionísio dopado por inalações lascivas

Espírito serenado, deixo fluir minha febre
nessa profusão de cheiros que explode dos corpos todos
Vejo na frente do espelho o teu vestido vermelho
e rio do meu esforço
para adivinhar teus passos
por alamedas escuras

As águas fluíram em março e desbotaram o esboço
do que havia de você

Hoje à noite vou beber o vinho mais saboroso
no cálice virtuoso da minha musa mais bela
Um sorriso de aquarela estará naturalmente
emoldurando meu rosto.

Livro Aberto - Carmen Silvia Presotto (Vidrágoras)


Ela amava ele
ele quase amava ela
 

ela a poesia lia
dele, o lance
era o romance
 

um dia, ela deu
a ele um poema
 

dele, nasceram setas
seiva, letras, o desejo
seresta e este teorema...
era tão uma vez...
 

Ele virou poeta
e ela?
- o seu infinito alcance.

Sirlanney - Magra de Ruim


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