terça-feira, 1 de março de 2011

Quimeras (Carolina Pires)

E sentiu-se refratada. Casta - inocente, não de corpo, de alma - a quaisquer ditos, cálices e cobiças. Só respirava conforme o vai-e-vem daquele peito uma vez ansiado, imprescindível, hoje, quase esquecido. Pudera ela entregar-se de braços abertos e dizer-lhe “aqui, sou tua” para enfim, poder sentir o prazer de ser devorada pelo desejo mais íngreme, novamente. Aquela pele tênue ainda tinha dono, o único com direito de tocá-la pela imortalidade. Anseio árduo, enternecido, não se distrairia mais com aquela sensualidade, devassidão, luxúria fria de breves apalpadelas, o abstrato. Talvez até por uma leve confusão ela dissesse que desejou mais um, quiçá pela carência que sentia do mais adorado. Cogitando oferecer-se à brasa, encontrava-se eufórica. Ela à expectativa, ele, agora, alforriado. Ela dele, ele dela e assim seria, sempre.

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