quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

O Caderno de Maya

"A verdade pura pode ser entediante, por isso, sem mesmo me aperceber, mudo-a ou exagero-a, mas pretendo corrigir esta falha e mentir o menos possível no futuro."

"A minha memória move-se em círculos, espirais e saltos de trapezista."

"Em hindi, Maya significa «feitiço, ilusão, sonho», o que nãotem nada a ver com o meu carácter. Átila teria sido mais apropriado, pois onde ponho o pé a erva não volta a crescer."

"Talvez ela tenha começado a sufocar com o aquecimento e ele a tenha ajudado a tirar o casaco e as botas, e depois acariciaram-se hesitantemente, reconhecendo-se,tateando a alma para se assegurarem de que não estavam enganados. Cheiras a tabaco e a sobremesa. E és liso e negro como uma foca, comentaria a minha Nini. Muitas vezes a ouvi dizer esta frase."

"Olhando o mar pela janela, beberam e comeram em silêncio, e as únicas palavras pronunciadas consistiram numa série de elaborados e cerimoniosos brindes:
– Saúde!
– Que em saúde se torne.
– Devolvo as mesmas finezas.
– Que você viva muitos anos.
– Que você vá ao meu enterro."

"A minha avó de certeza que o pôs de sobreaviso e Manuel tinha planejado esconder o álcool, mas isto seria absurdo, porque o problema não é o álcool, sou eu."

"– Segundo a minha Nini, Chiloé é mágico – disse eu.
– O mundo inteiro é mágico, Maya – replicou ele."

"Esta Maya fez-me sofrer mais do que qualquer outra das minhas personagens. Em algumas cenas
apeteceu-me dar-lhe um par de estalos para chamá-la à razão, e noutras envolvê-la num abraço
apertado para a proteger do mundo e do seu próprio coração imprudente."


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