segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Camões

Coitado! Que em um tempo choro e rio;
Espero e temo, quero e aborreço;
Juntamente me alegro e me entristeço;
Duma causa confio e desconfio.
Vôo sem asas, estou cego e guio;
E no que valho mais menos mereço.
Calo e dou vozes, falo e emudeço;
Nada me contradiz e eu aporfio.
Queria ser se pudesse o impossível;
Queria poder mudar-me e estar quieto;
Usar da liberdade e estar cativo.
Queria que visto fosse o invisível;
Queria desenredar-me e mais me enredo,
Tais os extremos em que triste vivo!

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